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Há quantos anos não somos o que desejamos?

por Revista RPPS
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Quantos anos você tem? Quem é você? O que você deseja? Estas três perguntas deveriam fazer parte de nosso cotidiano, pois elas nos permitem pensar em que momento estamos e como vivenciamos nossa vida. Questões que nos obrigam a refletir sobre nossa própria existência, especialmente quando se está vivenciando a passagem do mundo do trabalho para a aposentadoria. Como diz um amigo querido, o psicanalista Ricardo Iacub, saber “acompanhar-nos” nesta etapa da vida, permite compreender as dúvidas, os medos ou até mesmo as crises de sentido como partes necessárias deste processo e que podem nos levar a uma melhor fase da vida.

Iacub lançou recentemente na Argentina o livro “Todo lo que usted siempre quiso saber sobre su jubilacion y nunca se animo preguntar” (Editorial Paidós, 2014), trazendo depoimentos de pessoas que contam, com humor e grande profundidade, como foi o processo de sua aposentadoria e tudo o que esta nova etapa desencadeou em suas vidas.

Saber como outros passaram por esses momentos de transição em suas vidas nos dá alento e até inspiração para vivenciarmos a nossa. Afinal, a transição faz parte de nossa existência, da infância para a juventude, desta para a vida adulta e consequentemente para o mundo do trabalho, que vai nos acompanhar por décadas e décadas, sem estarmos organizados para enfrentar nenhuma delas. Mas para vivenciar a saída do trabalho e a aposentadoria, que afeta demais nossa existência, temos que nos preparar. Afinal, passamos anos e anos ocupando nossa maior parte do dia no trabalho, dedicando 30, 40 anos de nosso tempo às atividades laborais.

Embora seja um dos maiores desejos de quem trabalha um dia se aposentar, este fato, para ser efetuado, necessita de tempo de processamento, aprendizagens e suporte para concretizá-lo. A começar pelas muitas mudanças, que vão desde as questões burocráticas, o dinheiro que teremos que dispor; até a perda de colegas, os papéis desempenhados e muito mais. Mas há outras questões que, de acordo com Ricardo Iacub são invisíveis, que nos afetam em demasia, e que nem sempre são explicáveis para quem vivencia essa transição.

Para começarmos a nos preparar, que tal refletir sobre as seguintes questões: Quem eu sou sem este personagem incorporado em mim durante tantos anos? Como organizarei o tempo livre, sem despertadores e rotinas cansativas, mas que não seja vazio de atividades e o tempo se torne um fardo? Como posso me motivar cotidianamente quando não tenho ninguém me cobrando? E como manterei minha rede social?

Transformar aquilo que desejamos exige preparação, a começar em escolher entre tantos desejos aquele que dê maior sentido e continuidade à nossa vida, pois para concretizar, o que não é nada fácil, exige muita força de vontade e esta só surge quando o desejo é muito forte.

Responder a estas questões permitem uma melhor preparação para a saída do mundo do trabalho, a partir do momento em que começamos a imaginar como seria esta etapa da vida, sem causar tanto estresse. Do contrário, esta etapa pode se converter em “aposentapatologias”, como alguns dos depoimentos colhidos por Ricardo Iacub demostram.

Então, que tal pensar desde já em como “acompanhar-se” para viver de bem com a vida nesses tempos cada vez mais longos de nossa existência?

  • Beltrina Côrte
  • jornalista, com doutorado e pós-doutorado em Ciências da Comunicação pela USP. Desde 2001 é docente do Programa de Estudos Pós-graduados em Gerontologia da PUC-SP, do qual está atualmente como coordenadora. É editora executiva do site Portal do Envelhecimento (www.portaldoenvelhecimento.com) e da editora Portal Edições

 

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