Nesta conversa tentarei trazer o ambiente dos pequenos RPPSs, a vivência das dificuldades que envolvem a gestão e a carência dos conselhos dos institutos de previdência municipais.
Como escolher os fundos de investimentos? Faço essa pergunta constantemente. A Resolução CMN Nº 3922, limita e orienta como devemos gerir os recursos financeiros, mas, por que esse não aquele fundo? Quando aplicar ou resgatar? IMA, IDKa, IRF-M, +, 1 , 5 … e continua os benchmarks. Benchmark? Que diacho é isso? É pra comer? Como os conselheiros e Gestores escolherão? CPA 10, CPA 20, ANCOR, Certificações que não nos trazem todas as informações a fim de buscar melhores performances, mas para grande maioria dos servidores municipais apresentam o primeiro contato com o mundo dos termos econômicos, como a economia viabiliza a transferência entre agentes superavitários e deficitários.
Como é que é? Eita piula, agora lascou! Então vamos lá, a portaria MPS Nº 519/2011, determina que a maioria dos membros dos comitês de investimentos devem obter certificação para poderem investir os recursos dos RPPSs, esta certificação advém de uma prova efetuada por entidades reconhecidas pelo MPS, como a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e para alcançar a aprovação se faz necessário tomar conhecimento de assuntos que apesar de vermos no nosso dia a dia, não nos damos conta de como é o mecanismo para chegar ao resultado, como INPC, IBOVESPA, dólar, entre outros, e quais consequências em nossa vida, para a aprovação deve-se atingir a nota 7,0 em prova on-line, em local credendiado.
Para a maioria dos municípios brasileiros, tem quem em seu quadro menos de mil servidores, menos de 30 mil habitantes, que não possuem universidades ou escolas técnicas, onde a maioria dos servidores recebem 1 salário-mínimo, é muito difícil convencer os DONOS dos RPPSs a serem conselheiros, serem membros do comitês de investimentos, responsáveis civilmente pela gestão. Muitos nem queriam o RPPS, até hoje muitos entendem que o INSS é melhor, não sabem nem mesmo qual o saldo do instituto que são segurados.
Ainda bem, que muitos já entenderam que precisam estar perto da gestão, para acompanhar o que está sendo feito com o seu futuro. Muitos gestores estão levando o conhecimento mínimo para que os conselheiros tenham as noções básicas da economia brasileira, sistema financeiro nacional, composição dos fundos de investimentos, assim poderem aprovar ou propor mudanças em políticas de investimentos, ou poderem responder aos colegas servidores questionamentos de o por quê os fundos de investimentos estarem apresentando resultado negativo, ou por que não resgatar e/ou investir em outros fundos.
Possuo a Certificação Profissional ANBIMA- Série 20, mas não sinto-me capaz inteiramente para alavancar positivamente o tesouro no instituto de previdência que estou como gestor. Busco orientações, pesco o noticiário econômico. Creio que assessorias de investimentos são necessárias, mas, extrema atenção ao contratá-las. Uma simples busca na internet com o nome, CNPJ e comparar o valor cobrado, pode evitar cair em maracutaias. Quando o recurso está totalmente em bancos públicos e não há intenção de buscar outras instituições bancárias, por que não pedir auxílio as administradoras dos fundos sem gastar nada para isso. Acho que no mínimo devemos trabalhar com dois bancos, de forma clara tentar benefícios de assessorias ou capacitações, informando que na recusa transferirá para o outro banco, isso “esquenta as orelhas” dos gerentes.
Os gestores precisam visualizar que enquanto maior a transparência, maior conhecimento dos servidores na cultura previdenciária, maior força dos conselheiros, maior também a divisão de responsabilidades.
Neste ano de 2015 foi de dar “nó nas tripas”. Fortes oscilações. Em Soledade/ PB, investimentos em 11 fundos, sendo 4 na CEF e 7 no BB. Início de ano confortável, a partir de maio alguns sustos, em julho e agosto uma paulada, melhorando em setembro e bons rendimentos em outubro, novembro e dezembro. Repomos as perdas, cobrindo a inflação, mas não batemos a meta da política de investimentos e do cálculo atuarial para 2015.
Nossa grande preocupação é perder o “time”. Qual momento certo de entrar ou sair, depois que acontece o rendimento negativo, lascou, já foi. Um ponto importante para nós é o entendimento da realização do lucro ou prejuízo, quando somente acontece com o resgate, explico melhor, ao investir em um fundo adquirimos quotas deste fundo, no momento do resgate se esta quota estiver como valor maior que o comprado executaremos o lucro, do contrário, se estiver mais barato, teremos prejuízo, se não resgatarmos devemos contabilizar, mas isso não necessariamente significa que o RPPS teve prejuízo, pois permanece com o mesmo número de quotas. Outro exemplo, compramos uma tonelada de um produto que não estraga, não vence, não se danifica, em determinado tempo, vendemos este produto, se estiver mais caro que a compra teremos lucro, se vendermos com o valor menor que o comprado teremos prejuízo, mas se não vendermos nem lucro ou prejuízo, continuaremos com a mesma uma tonelada comprada.
Em ano eleitoral, as oscilações negativas geram muita pressão aos gestores, pois podem ser utilizadas como o famoso “rombo”, onde políticos (servidores ou não), com a finalidade de querer expor os pontos negativos da gestão amedrontam a população, muito embora que se os servidores estiverem capacitados, terão motivos para desconfiar das intenções destes, além de comprovar a baixa capacidade técnica do candidato e seus assessores. Este assunto é demasiadamente sério e necessita contínua atenção e encontros com os servidores, como também a transparência nas tomadas de decisões, demonstrando que as capacitações, sejam em reuniões, seminários, congressos, áudio conferências, entre outras modalidades, são o caminho para o amadurecimento da consciência da cultura previdenciária. Faça sua parte!
- Milton Moreira
- Contador
- Dir Presidente do IPSOL
- Especialista em Gestão Previdenciária
- CPA-20
- Sonhador (por que não?)