É basicamente impossível nos tempos atuais, separar a política da economia. A célebre frase, atribuída a Jonh Maynard Keynes, de que não é possível fazer política econômica sem a economia política, assumiu ares literais no presente. Há uma leitura, amparada nos fatos, de que a atual escolha de política econômica não consegue oferecer as respostas necessárias à economia, de forma que a confiança das pessoas e empresas seja restaurada e por consequência, os investimentos e o consumo retornem. Portanto, a política econômica precisa mudar. Seja pela mudança de orientação do Governo atual, seja pela mudança do próprio Governo, de preferência com alguma solução que esteja prevista na Constituição Brasileira.
Desta forma, os exercícios que tentam oferecer ideias sobre o cenário econômico e os preços dos ativos em 2016 devem levar em consideração este processo binário. Diante disto, discutiremos as consequências para as classes de ativos considerando estes dois possíveis resultados: a mudança na política econômica ou manutenção desta.
Cenário 1: A mudança na política econômica.
Uma reversão das atuais escolhas de política econômica mudaria rapidamente as expectativas – pelo menos no primeiro momento. É como se o Governo recebesse um voto de confiança temporário para mostrar que possui uma estratégia para a solução do atual imbróglio econômico.
Neste caso, é bastante provável que tenhamos um rally nos preços dos ativos de risco. Dito de outra forma, veremos o Ibovespa subindo muito até o final do ano. A explicação para isso é simples. O preço das ações expressa em linhas gerais, o resultado das empresas. E este resultado, salvo empresas com rara dinâmica própria, é determinado pelo desempenho da economia. Como esperar que o setor de varejo tenha um bom desempenho, se as vendas no varejo apresentam o pior resultado de todos os tempos? Ao passo que com a mudança na política econômica, as expectativas mudariam e as empresas deverão retomar seus investimentos, melhorando as perspectivas de lucros para os próximos anos.
Na renda fixa, um aumento dos preços dos títulos públicos, o que equivale ao fechamento das taxas de juros, será a regra. Aqui também há uma explicação simples. A volta do combate à inflação, mais cedo ou mais tarde permitirá a queda nos juros, sobretudo no atual ambiente de recessão. Na linguagem dos mercados a parte mais longa da curva fechará porque as expectativas quanto aos juros no futuro serão menores do que os juros no presente.
Para os ativos da chamada economia real, a exemplo de investimentos imobiliários ou em participações a regra é quase a mesma. Ressaltamos o “quase” porque embora sejam afetados pelas condições da economia, e uma melhoria traria contribuições positivas, estes investimentos também obedecem uma dinâmica própria, e seu bom desempenho depende também da qualidade dos ativos investidos. Mas em termos gerais, devem se valorizar.
Evidentemente que este movimento não vai ocorrer como uma trajetória linear para nenhuma das classes de ativos. Aliás, não existe linearidade no mercado financeiro. A regra será a volatilidade, mas com o direcional positivo para os preços dos ativos.
Cenário 2: A manutenção da política econômica.
No caso da manutenção da política econômica, não esperamos um rally nos preços dos ativos de risco, mas sim a manutenção das fortes quedas no Ibovespa, especialmente lideradas pelas empresas mais afetadas pela recessão econômica. Juros e inflação devem permanecer em patamares elevados. Neste caso, serão abertas oportunidades na renda fixa, tanto em títulos públicos quanto em títulos privados. Evidentemente que os riscos devem ser avaliados com bastante cuidado nos dois casos, afinal, não existe ativo sem risco. Pelo menos não fora do livro texto. Nos títulos públicos, é bem provável que os títulos indexados à inflação ofereçam melhores alternativas de investimentos e proteção aos investidores. No caso de títulos privados, o gerenciamento do risco de crédito será fundamental para evitar perdas significativas.
Para os ativos da economia real, salvo nos casos onde a dinâmica própria se sobressaia ao ambiente econômico, em sua maioria eles não devem apresentar desempenho suficiente para agregação de valor aos investidores. Infelizmente são os poucos os casos em que a dinâmica própria dos ativos se sobressaia de forma relevante ao ambiente econômico. Podem até ter desempenho positivo, mas serão raros os casos de ativos na economia real que oferecerão resultados que contribuam de forma satisfatória para os seus investidores.
Por fim, cenários são úteis quando a eles são atribuídas chances de ocorrência, afinal, os gestores precisam se posicionar. Nossa visão é que o cenário 1, a mudança na política econômica possui chances muito maiores de ocorrência do que o cenário 2. Dito de outra forma, nossa visão é que a política econômica muda e os preços dos ativos terão um bom desempenho em 2016.
- Álvaro da Luz é Economista e Mestre em Economia e Finanças pela UFSC. Atualmente é Sócio Diretor da AlvoEduca – Geração de Conhecimento. Atuou como Gerente Financeiro na Quanta Previdência Unicred, como Economista Chefe na Somma Investimentos e Diretor de Gestão de Recursos, Gerente de Administração, Finanças e Contabilidade e Gerente de Investimentos no Instituto de Previdência do Estado de Santa Catarina. Foi professor de Macroeconomia e Finanças na UFSC, professor Visitante de Macroeconomia na ESAG, professor de Gestão de Carteiras e Risco de Mercado E Crédito nos cursos de MBA e Extensão aplicados à Previdência Pública e Privada da Escola de Negócios Positivo. Possui Certificações CPA 20 – Anbima e ICSS – Gestores de Investimentos e Dirigentes de Fundos de Pensão.
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