Por Égon Rodrigues
No meio de Março, uma notícia pegou os agentes de mercado de surpresa no Brasil. A agência de classificação de risco Moody’s melhorou a perspectiva para a nota de crédito dos títulos do governo, do status de “negativa” para “estável”. Porém, o país continua na categoria “Ba2”.
Este grau indica que o país devedor é menos vulnerável no curto prazo que devedores com ratings menores. Mas enfrenta grandes incertezas no momento e uma exposição a condições adversas fariam com que o país tivesse dificuldade para honrar compromissos.
O comunicado da Moody’s foi um reconhecimento de que o país dá sinais de melhora. Mas deixou claro que ainda é preciso observar com atenção e esperar. Nas palavras deles, “existe o risco da instabilidade política brasileira comprometer a aprovação de reformas como a da Previdência Social”.
Para a agência, a nota é consistente com as expectativas traçadas por ela para o período entre 2017 e 2019 e com a trajetória da dívida do governo. As perspectivas de crescimento para este ano vão ganhando força lentamente, variando de meros 0,1% a até 1% entre os mais otimistas.
As projeções mudam a cada notícia nova sobre os resultados dos diferentes setores da Economia e do cenário político. Sobram estimativas. Carecem as certezas. “A economia brasileira dá sinais de melhora, com inflação em trajetória de queda e melhoria da perspectiva fiscal”, dizia a nota. “As condições macroeconômicas têm se estabilizado no Brasil, com uma recuperação das expectativas de crescimento para 2017”, afirmou a agência.
Agora no começo de Abril, os analistas das instituições financeiras baixaram sua estimativa de inflação para este ano (de 4,12% para 4,10%) e passaram a estimar um corte maior da taxa básica de juros no decorrer de 2017.
A recessão parece ter atingido o seu ponto mais baixo. A recuperação será pequena, à medida que a confiança das empresas e dos consumidores melhorarem. Portanto, os bancos e as instituições continuarão cautelosos em 2017.
Bancos
Em decorrência da alteração do rating soberano, também foi alterada de “negativa” para “estável” a nota das perspectivas dos ratings de 30 bancos brasileiros, suas afiliadas e da BM&F Bovespa S.A. “Esta alteração de perspectiva por parte da Moody’s ratifica a percepção de redução do risco país, medido pelos CDS (Credit Default Swaps) e dos spreads cobrados nas emissões de empresas brasileiras e do governo brasileiro”, afirma Leonardo Loyola, diretor de Finanças do Banco do Brasil.
“Recebemos muito bem esta notícia no Banco do Brasil e temos a convicção de que o país continuará avançando e criando melhores condições de acesso ao financiamento externo a custos cada vez mais competitivos”, completa Loyola, otimista.
O impacto nos bancos tem sido limitado. A liquidez forte e a estrutura de captação doméstica reduziram a vulnerabilidade dos bancos brasileiros a possíveis choques inesperados vindos dos mercados globais.
“O índice de empréstimos em atraso em todo o sistema continua moderado em 3,7%, alta de somente 90 pontos-base em relação a janeiro de 2015, enquanto as reservas para perdas com empréstimos totalizam 6,5% das operações de crédito”, afirmou a Moody’s em seu comunicado.
Em nota, a Caixa Econômica Federal também enxerga a mudança como um sinal positivo. “Neste sentido, a modificação do rating reforça uma recuperação gradual das notas de agências, refletindo a recuperação da economia e a dinâmica do cenário macro econômico”, comunicou o banco. “A Moody’s enxerga que temos uma agenda mais positiva. A agência olha principalmente o pagamento da dívida. Toda vez que ele fica mais viável, reflete na melhora da nota”, explica Phylipe Corsini, Diretor Executivo da área de Asset Management do BTG Pactual.
Próximos capítulos
A mudança no rating melhora todo o cenário econômico. E a melhora dele se reflete pela diminuição da inflação e da taxa de juros. Mas os resultados da queda gradual da taxa Selic também levam tempo. “Quanto à retomada da produtividade e à redução do desemprego, a gente já caminha pra isso. Ainda estamos no aperto. A situação ainda precisa melhorar. Precisamos continuar executando as mudanças”, ressalta Corsini.
Phylipe Corsini lembra que, historicamente, países que perdem grau de investimento levam, em média, de seis a sete anos para recuperarem. “Se na próxima década fizermos alterações significativas, essa nota vai subir. Faz muita diferença do ponto de vista de investimentos, fundos de pensão e aportes nos setores de serviços, indústria e infraestrutura”, analisa.
No cenário futuro, com menores taxas de juros, a relação PIB – Dívida deve melhorar. Os investidores devem procurar fundos que lhes paguem bem. O que haverá é uma mudança na maneira que os investimentos são feitos pelos Fundos, pelos RPPSs, pelos investidores pessoas físicas e institucionais. Continuam em foco os fundos de renda variável e entram os FIP’s (Fundo de Investimento em Participação) e fundos com risco mais acentuado.
“Todo esse cenário é cíclico. É interessante para o investidor institucional procurar onde paga mais, aproveitando taxas maiores no longo prazo”, diz ele. “Isso é bom pra todo mundo. Faz com que o país cresça, diminua a inflação e os investidores busquem investimentos diferenciados”.
A reforma da previdência, o controle fiscal, a retomada do crescimento e o controle da dívida pública são o que sinalizará com clareza a melhora do ambiente interno e uma nova elevação do rating brasileiro, futuramente. Mas a reconstrução da confiança será lenta.