A presença do Padre Fábio de Melo
Domingos Augusto Taufner
A palestra ministrada pelo Padre Fábio de Melo no encerramento do 1º Congresso Nacional de Previdência dos Servidores Públicos (CONAPRESP), realizado em Florianópolis no mês de junho de 2018, foi simplesmente emocionante e, pelo que percebi, contagiou positivamente os presentes no evento. E não encantou somente aos católicos, mas também a pessoas de outras religiões e até mesmo as que não tem religião.
As entidades que representam os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) realizam grandes eventos de caráter nacional. Em regra, esses são iniciados ou encerrados com palestras de caráter motivacional com pessoas de renome, e mesmo assim nem sempre a grande parte das pessoas inscritas as assistem. O impressionante do 1º CONAPRESP foi que das 1.620 pessoas inscritas, a quase totalidade ficou até o final para assistir atentamente à palestra do Padre Fábio de Melo. Sem dúvida, um marco no histórico dos eventos de RPPS.
Mas qual é a razão desse encantamento causado pelo Padre Fábio de Melo?
É fruto de várias causas, principalmente por passar orientações com clareza e sabedoria, provenientes da ética existente no Evangelho. Sem fazer julgamentos, traz elementos essenciais e profundos sobre as relações entre as pessoas.
A Igreja católica, no Brasil, trouxe nos últimos anos vários líderes. Destaco dois: o teólogo Leonardo Boff e o Padre Fábio de Melo. Aparentemente antagônicos, já que o primeiro surgiu junto com a Igreja progressista e o segundo junto com movimentos mais identificados com a Igreja conservadora.
No entanto, não os considero antagônicos. Defendo a tese de que os dois se completam. Leonardo Boff, reconhecido como um dos idealizadores da Teologia da Libertação, nos orienta no plano social para que lutemos por uma sociedade igualitária, justa e fraterna, que será obtida pela transformação das estruturas políticas, econômicas e sociais. Fábio de Melo nos orienta muito mais no sentido do comportamento individual, das nossas relações com as pessoas, sobre aquilo que podemos mudar em nós mesmos para que essas relações sejam melhores.
Considero que as duas ideias se complementam, pois não basta realizar mudanças nas estruturas sem a transformação do ser humano no seu contexto individual e espiritual. Entretanto, também não adianta ingenuamente querer transformar o ser humano sem questionar as injustiças sociais que existem.
Ao ouvir as falas do Padre Fábio de Melo, seja em programas de TV, em palestras, ou quando ele responde à determinada pergunta, percebo que não responde com aquela “saraivada” de padrões morais que muitos religiosos orientam seus fiéis a seguir “da boca para fora”. Muito pelo contrário, ele orienta buscando as profundezas do Evangelho, indo no âmago das questões que nos incomodam.
E faz isso de maneira muito tranquila, leve e acolhedora. Exemplo disso foi o fato de ter iniciado a palestra em Florianópolis cantando suavemente a música “sangrando” de Gonzaguinha, numa interpretação memorável. Muitos gravaram com seus celulares esses e outros momentos da palestra. Nos dias seguintes, provavelmente ouviram várias vezes o que gravaram, tudo para voltar a sentir aqueles momentos emocionantes.
O uso de música popular e a ausência de pregações ligadas à moral hipócrita são apenas dois exemplos de alguém que quer nos orientar sem nos blindar do mundo, pois é nele que vivemos e devemos estar preparados. Não adianta usarmos máscaras, pois elas nos distanciam da realidade e da essência da Palavra de Deus.
Ele também falou com muita tranquilidade sobre um problema pessoal que teve recente: a síndrome do pânico. Ninguém imaginaria que um orientador espiritual dessa estirpe passaria por um problema desse. Mas ele é um ser humano como qualquer outro.
Considero um gesto importante quando alguém admite algo negativo que tenha passado. É mais um passo que demonstra que, acima de tudo, devemos ter humildade e compreensão para com os nossos irmãos.
Isso mostra que ninguém, por mais bem preparado que seja, está livre de passar por situações como essa. Somos humanos e não temos a perfeição do nosso Criador. Somos seres em evolução. Podemos e devemos ser pessoas boas, mas não seremos perfeitos. A mensagem do Padre Fábio de Melo nos orienta nesse sentido.
* Domingos Augusto Taufner é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo e foi palestrante no I CONAPRESP